domingo, dezembro 28, 2025

Arte na gaveta

E quando a arte fica na gaveta, 
porque "eu não quero mostrar pra quem não vai comentar"?

O que ela faz? O que a gente faz?

"Bota logo na parede, porra. Senão fez ela pra que?!" ... Meio agressivo. Sem carinho. 

E a gaveta continua fechada. 

Faz o que então?

Vende? Dá pra outro pendurar? Esquece que ela nasceu e abandona ela na gaveta?

Não consigo. 

Como criança, minha arte chora e eu ouço de longe. Grita e me pede colo, carinho, atenção. 

Me persegue e não me deixa cagar sozinha. 

Não consigo. 

Honestamente não sei se quero conseguir. 

Minha arte nasceu de um lugar de beleza, dor e muito, muito amor. 

Amor que está em falta. 

Amor nosso. Amor meu. 

Não quero esquecer do que te gerou, meu pequeno poema. 

Não quero esquecer de você. 


Talvez quem te gerou comigo nunca te veja, 

Não te queira,

Não sinta sua falta. 

Mas eu vejo. 

Eu quero. 

Eu sinto. 


Alguém me entrega a chave da gaveta, 

E senta do meu lado

"Ela não precisa sair até você querer mostrar. Eu reconheço o valor dela, e espero com você."

Meus joelhos enfraquecem e a gaveta abre macia e suave como o carinho de uma onda na areia. 

Meu poema pintado passeia pelos dedos, 

As cores brincando de pega-pega, as sombras protegendo os brilhos.

Os olhos que a veem, brilham também.

Como tudo muda quando quem te acompanha muda!


Roncando, dormimos em paz, nós 3: ele, eu, e nossa arte, saudáveis, tranquilos e seguros. 

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